Grandes crises levam a grandes mudanças, não é mesmo? Com a alimentação não é diferente, pois quanto maiores os problemas que surgem, mais precisamos repensar a segurança e a qualidade dos alimentos que consumimos. A história das pandemias expõe as fragilidades da cadeia de produção de alimentos e os rumos que devemos seguir para contorná-las. Quer ver como?
- Reino Unido, década de 90, uma epidemia surge e rapidamente se espalha levando ao sacrifício de milhões de bovinos e a infecção de centenas de pessoas. Tratava-se de uma doença neurodegenerativa, o “mal da vaca louca”, que leva este nome por surgir no gado doméstico (animais de abate).
- Sudeste Asiático, 2005. Uma grande epidemia de gripe aviária assustou o mundo.
- Abril de 2009, México. Surgiram os primeiros casos da gripe suína, depois rebatizada de gripe A, ou H1N1. O vírus se espalhou por todo o mundo: 75 países registraram casos e a Organização Mundial de Saúde declarou que o planeta vivia uma pandemia.
- Março de 2014. A Organização Mundial da Saúde reconheceu que a Guiné vivia um surto de ebola. Era a terceira epidemia da doença em países africanos desde os primeiros casos, em 1976.
- Mercado da cidade de Wuhan, China, fim de 2019. Acredita-se que ali tenha sido o marco zero da contaminação do novo coronavírus em humanos. De lá para cá, a doença se espalhou por todo o globo.
O que essas pandemias têm a ver com a cadeia de produção de alimentos? Todas foram causadas por problemas na manipulação de animais utilizados para alimentação humana. Os problemas são:
- O tratamento de bois com ração de origem animal;
- Confinamento de frangos em gaiolas mínimas e empilhadas;
- Manejo suíno em escala industrial;
- E o consumo de carcaças de animais silvestres em regiões de escassez.
A criação intensiva de animais de abate e o consumo de animais silvestres facilita a disseminação de doenças entre os animais e consequentemente entre os seres humanos. Em países do oriente não é tão comum, mas na África Central e na Ásia há elevado consumo de carne de animais silvestres.
O consumo de animais de criação (bovinos, suínos, aves e caprinos) é muito maior em escala mundial, mas o contato de animais selvagens com humanos levou ao desenvolvimento de doenças notáveis. Dentre elas estão a AIDS, ligada à caça de chimpanzés, a SARS (COVID-19), ligada ao mercado de animais silvestres e o Ebola, ligado à caça de macacos.
O crescimento da população aumentou a demanda global por alimentos. Outros fatores como o aumento da renda e da urbanização aumentaram a demanda por produtos de origem animal (carne, aves, laticínios e ovos). Para atender a esta demanda crescente, o setor produtivo passou a adotar práticas inadequadas de gerenciamento da produção animal, priorizando o lucro em detrimento da segurança alimentar. Estas práticas envolvem as ações que foram apontadas acima como sendo os problemas causadores das pandemias citadas. Os principais fatores são a mistura de espécies, métodos de confinamento, alimentação e controle de doenças inadequados devido a infraestrutura veterinária precária.
Qual o efeito dos antibióticos em relação as pandemias?
A utilização de antibióticos para aumentar as taxas de crescimento, melhorar a eficiência alimentar e diminuir a produção de resíduos de animais leva ao surgimento de resistência microbiana. Isso significa que microrganismos patogênicos resistentes a antibióticos podem ser transmitidos de animais para seres humanos pela alimentação, aumentando nossa vulnerabilidade a doenças de origem animal.
Se crises são momentos de redefinições, talvez devêssemos aproveitar a quarentena e repensar esta lógica. Para entender como faremos isso, responda: você sabe a origem do alimento que você consome? Provavelmente a sua resposta foi “não”. A razão disso é que as práticas industriais nos afastam deste conhecimento. Neste sentido, faz se necessário que haja maior transparência para que o consumidor conheça a origem e as etapas do processamento do alimento que vai comer.
A disseminação dessas informações provocaria uma profunda reflexão social e levantaria questionamentos acerca da origem e dos meios de produção dos alimentos. Iniciativas como o “manejo humanizado de animais”, que contempla práticas de bem estar animal e cuidado sanitário, surgiram a partir de reivindicações sociais. Desta forma, por exigência dos consumidores, as indústrias caminhariam cada vez mais para um controle total da cadeia produtiva, monitorando as suas etapas. Isto traria cada vez mais segurança, promovendo a saúde dos animais e consequentemente dos seres humanos que os consumirem.
Então é só isso que precisa ser feito?
Não, uma outra medida a ser tomada é a redução do desperdício. Enquanto 821 milhões de pessoas estão em estado de insegurança alimentar, um terço da produção mundial de alimentos é desperdiçada por ano. Esses dados são da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) e são consequência da ineficiência da cadeia produtiva, que gera desperdícios. Para enfrentar este problema devemos repensar toda a cadeia produtiva, do produtor à mesa do consumidor, adotando práticas mais sustentáveis que visam eliminar estes desperdícios.
Diminuir os desperdícios é um desafio enfrentado por áreas como a Engenharia de Alimentos por exemplo, unidas aos setores da economia envolvidos na cadeia produtiva. Contudo, este enfrentamento não será possível sem investimentos governamentais em pesquisa e desenvolvimento de soluções.
Tudo bem, mas o que você pode fazer a respeito disso?
O primeiro passo é se informar, que é o que você está fazendo agora. O segundo passo é procurar consumir de forma mais consciente, pois já existem empresas no mercado que adotam práticas mais sustentáveis. Fazendo isso, outras empresas vão perceber o quanto vale a pena adotar as práticas de sustentabilidade ao verem o sucesso das empresas que já adotaram. Assim, mais empresas vão aderir às práticas sustentáveis e a lógica ultrapassada vai gradualmente sendo substituída.
Agora ficou mais fácil entender que a forma como produzimos nossos alimentos impacta diretamente na nossa saúde. Você viu o quanto a nossa cadeia necessita caminhar para um modelo mais sustentável e consciente, onde a segurança, a qualidade e a redução de desperdício devem ser as principais preocupações. Você também viu que a informação é o primeiro passo para provocar a mudança.
Sendo assim, compartilhe este texto nas suas redes sociais, dissemine a informação para que ela atinja mais pessoas e gere mais impacto. Ah, quer ficar mais informado a respeito das novas tendências em produção alimentícia e desenvolvimento sustentável? Fica ligado no tema sobre Embalagem Sustentável: Devo ou não investir?. Acompanhe o nosso blog, estamos sempre atentos às tendências e trazendo as informações para você.